O amarelecimento dos plásticos das consolas e computadores lançados nas décadas de 1980 e 1990 é um fenómeno bem conhecido por colecionadores e entusiastas de tecnologia retro. Embora frequentemente confundido com sujidade, fumo de tabaco ou simples desgaste, esta mudança de cor resulta de processos químicos complexos associados aos materiais utilizados na época e às condições ambientais a que estes equipamentos foram expostos ao longo de décadas.
A maioria das consolas desse período foi fabricada em ABS (acrilonitrilo-butadieno-estireno), um plástico resistente e económico. No entanto, o ABS é naturalmente inflamável e, para cumprir normas de segurança, foram adicionados retardadores de chama à base de bromo à sua composição. Estes compostos, embora eficazes na prevenção de incêndios, tornam-se instáveis ao longo do tempo. À medida que o plástico envelhece, o bromo migra para a superfície e reage com o oxigénio e com a radiação ultravioleta, originando compostos que conferem ao material um tom amarelado.
Este processo é acelerado sempre que o plástico é exposto diretamente à luz solar ou a fontes de iluminação ricas em radiação UV, como lâmpadas fluorescentes. O calor e a humidade contribuem igualmente para a degradação, acelerando a oxidação do plástico e tornando-o mais vulnerável à mudança de cor. Por isso, é comum que apenas certas partes das consolas — geralmente as mais expostas — apresentem amarelecimento, enquanto outras mantêm o tom original.
As diferenças entre lotes de fabrico também explicam por que motivo algumas consolas amarelecem mais do que outras. As misturas de ABS usadas na época não eram totalmente uniformes e a quantidade de retardadores de chama aplicados variava consoante a fábrica, o ano de produção ou as normas de segurança do mercado para onde o produto era destinado. Isto faz com que até duas peças da mesma consola possam envelhecer de forma distinta.
Ao contrário do que alguns utilizadores acreditam, o amarelecimento não é, na maioria dos casos, uma forma de sujidade superficial. Trata-se de uma alteração estrutural do material que não desaparece com limpezas comuns. Para reverter parcialmente este efeito, surgiu o método conhecido como Retrobright, baseado na aplicação de peróxido de hidrogénio e luz UV. Embora capaz de clarear o plástico, o efeito é temporário e pode fragilizar o material, exigindo cuidados na sua aplicação.
Existem alternativas mais seguras, como a reprodução de peças em plástico novo ou a aplicação de pintura específica para plásticos, embora estas opções alterem a autenticidade dos equipamentos. A forma mais eficaz de atrasar o processo é garantir um armazenamento adequado: locais frescos, secos e protegidos da luz, especialmente da radiação ultravioleta.
O amarelecimento é, portanto, uma consequência natural da combinação entre os materiais e as normas de segurança da época, aliada ao envelhecimento químico inevitável do plástico. Este fenómeno tornou-se parte da identidade visual de muitos equipamentos retro, recordando-nos de que, mesmo na tecnologia, o tempo deixa sempre a sua marca.
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