Press Release: Os benefícios físicos, sociais e psicológicos do exercício e do desporto são amplamente conhecidos e reconhecidos.
Estudos mostram, que a prática de exercício físico está associada a uma redução significativa no número de dias em que se verificam problemas de saúde mental. As pessoas que se exercitam reportam, em média por mês, menos 1,49 dias (43,2%) de estados negativos relacionados com a saúde mental. Todos os tipos de exercício mostraram benefícios, sendo os mais eficazes os desportos coletivos, o ciclismo e as atividades aeróbicas ou de ginásio, sobretudo quando praticados durante 45 minutos, entre três a cinco vezes por semana (Chekroud et al., 2018).
Ma et al. (2024) identificaram uma relação significativa entre a aptidão física e a saúde mental de estudantes universitários chineses. Melhorar a capacidade pulmonar através de prática de exercícios de endurance, como a corrida, é uma das estratégias mais eficazes para reduzir problemas psicológicos.
Para além da melhoria das capacidades físicas, também a vertente social e as relações interpessoais parecem ser fatores importantes na promoção da saúde mental. Assim, poder-se-á concluir que os desportos de equipa têm um impacto mais significativo nesta problemática. Participar numa equipa cria uma rede de apoio que vai além do desporto. Os colegas de equipa podem ser fundamentais em momentos de dificuldade pessoal, seja na vida quotidiana ou durante os desafios da competição. Fazer parte de uma equipa pode ajudar a combater sentimentos de solidão e isolamento. Os jovens, em particular, encontram nas equipas um espaço para se expressar e desenvolver a sua identidade.
Pluhar et al. (2019) sugerem que atletas de desportos coletivos têm menor probabilidade de sofrer de ansiedade ou depressão do que atletas de desportos individuais. Estes últimos tendem a praticar mais por objetivos do que por diversão, ao contrário dos que participam em equipas. A motivação para a prática desportiva pode explicar por que razão os desportos coletivos proporcionam maior proteção à saúde mental, promovendo oportunidades sociais que estimulam a diversão e reduzem o stress, enquanto os desportos individuais podem ser mais solitários e fomentar objetivos menos saudáveis e maior autocrítica em caso de falha.
Várias pesquisas confirmam que a participação em desporto, seja coletivo ou individual, é benéfica para a saúde mental e para os resultados sociais em adultos. No entanto, os desportos coletivos parecem proporcionar benefícios adicionais e mais robustos ao longo da vida adulta (Eather et al., 2023).
Mas será que, em contextos de desporto de elite e alta competição, os benefícios se mantêm? Perante as exigências da competição, os objetivos da equipa e as expectativas individuais, esta questão pode levantar dúvidas.
Embora os impactos físicos do desporto de elite estejam bem documentados, existe ainda relativamente pouca investigação sobre a saúde mental dos atletas de alto rendimento. Rice et al. (2016) realizaram uma revisão sistemática para avaliar a evidência científica sobre a saúde mental destes atletas, incluindo a prevalência de perturbações mentais e consumo de substâncias. Os resultados sugerem que os atletas de elite apresentam um risco comparável ao da população geral em relação a perturbações mentais de alta prevalência, como ansiedade e depressão.
Esta revisão oferece evidência preliminar para o modelo conceptual “Saúde Mental através do Desporto”, embora sejam necessários mais estudos experimentais e longitudinais para entender os mecanismos que explicam o impacto do desporto na saúde mental e os fatores que influenciam os efeitos das intervenções.
O Comité Olímpico Internacional (COI) assumiu oficialmente o compromisso de melhorar a saúde mental dos atletas de elite, reconhecendo que isso reduz o sofrimento, melhora a qualidade de vida e serve de exemplo para a sociedade. O COI defende que os sintomas e perturbações mentais devem ser tratados com a mesma seriedade que outras doenças ou lesões físicas, já que podem ser igualmente graves e incapacitantes. A saúde mental é indissociável da saúde física e essencial para o bem-estar e desempenho dos atletas (Reardon et al., 2019).
Conclusão
É necessário realizar mais estudos qualitativos para compreender melhor a relação entre elementos específicos do ambiente desportivo e os resultados ao nível da saúde mental e social em adultos. No entanto, pode afirmar-se que o desporto, quando praticado de forma prazerosa e em contexto de lazer entre pares, tem enormes benefícios para a saúde mental. Estar em grupo é melhor que estar sozinho, socializar é importante e ter o sentimento de pertença a algo é fundamental para o ser humano. Por isso, faça desporto, em grupo de preferência, mas, se não tiver essa oportunidade faça-o sozinho pois os benefícios continuarão a ser imensos.
Referências bibliográficas
Chekroud, S. R., Gueorguieva, R., Zheutlin, A. B., Paulus, M., Krumholz, H. M., Krystal, J. H., & Chekroud, A. M. (2018). Association between physical exercise and mental health in 1.2 million individuals in the USA between 2011 and 2015: A cross-sectional study. The Lancet Psychiatry, 5(9), 739–746. https://doi.org/10.1016/S2215-0366(18)30227-X.
Eather, N., Wade, L., Pankowiak, A., & Eime, R. (2023). The impact of sports participation on mental health and social outcomes in adults: A systematic review and the 'Mental Health through Sport' conceptual model. Systematic Reviews, 12(1), 102. https://doi.org/10.1186/s13643-023-02264-8.
Ma, S., Yang, Y., Soh, K. G., & Tan, H. (2024). Effects of physical fitness on mental health of Chinese college students: A cross-sectional study. BMC Public Health, 24(1), 727. https://doi.org/10.1186/s12889-024-18097-6.
Pluhar, E., McCracken, C., Griffith, K. L., Christino, M. A., Sugimoto, D., & Meehan, W. P., III. (2019). Team sport athletes may be less likely to suffer anxiety or depression than individual sport athletes. Journal of Sports Science and Medicine, 18(3), 490–496. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6683619/.
Reardon, C. L., Hainline, B., Miller Aron, C., Baron, D., Baum, A. L., Bindra, A., Budgett, R., Campriani, N., Castaldelli-Maia, J. M., Currie, A., Derevensky, J. L., Glick, I. D., Gorczynski, P., Gouttebarge, V., Grandner, M. A., Han, D. H., McDuff, D., Mountjoy, M., Polat, A., Purcell, R., Putukian, M., Rice, S., Sills, A., Stull, T., Swartz, L., Zhu, L. J., & Engebretsen, L. (2019). Mental health in elite athletes: International Olympic Committee consensus statement (2019). British Journal of Sports Medicine, 53(11), 667–699. https://doi.org/10.1136/bjsports-2019-100715.
Rice, S. M., Purcell, R., De Silva, S., Mawren, D., McGorry, P. D., & Parker, A. G. (2016). The mental health of elite athletes: A narrative systematic review. Sports Medicine, 46(9), 1333–1353. https://doi.org/10.1007/s40279-016-0492-2.
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