Press Release: Estudo-piloto publicado na "Frontiers in Psychology" evidenciou efeitos promissores na gestão e regulação das emoções dos futuros médicos.
Um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) deu origem a uma aplicação de meditação para estudantes de Medicina com efeitos promissores na gestão e regulação das emoções.
Os resultados estão plasmados num trabalho de investigação intitulado “Developing and evaluating a Portuguese-language meditation App for medical students: motivation, adherence, and emotional effects”, publicado na revista científica Frontiers in Psychology.
A ideia de desenvolver esta app, feita em português à medida dos estudantes de Medicina, surgiu em plena pandemia de COVID-19, no âmbito de uma Unidade Curricular Optativa da FMUP (Neurociências Contemplativas: Mindfulness) vencedora de um Prémio de Inovação Pedagógica da U.Porto.
A app e o estudo foram desenvolvidos no contexto da tese de Mestrado Integrado em Medicina de Ana Rita Soares, na FMUP, sob a orientação da docente Isaura Tavares.
Mais de 100 estudantes de Medicina aderiram, inicialmente, a este estudo, que implicava a avaliação das emoções antes e depois de cada meditação, através de uma escala de regulação emocional, uma espécie de “termómetro das emoções”.
O objetivo era pôr estes estudantes e futuros médicos a praticar meditação guiada, ao longo de 21 dias consecutivos, de modo a analisar os efeitos no stress e na ansiedade académica.
“É importante que se cultive um equilíbrio emocional”
As conclusões deste estudo-piloto mostram que, após a meditação, os estudantes apresentaram uma tendência para passarem de emoções como a raiva, o medo e a tristeza para emoções como a alegria ou para uma emoção “neutra”. As variações apresentadas foram estatisticamente significativas.
“É importante que se cultive a equanimidade, um certo balanço, um equilíbrio emocional”, diz Isaura Tavares, professora da FMUP, onde é responsável por aquela Unidade Curricular, que aborda conhecimentos neurobiológicos e processos subjacentes à Meditação e ao Mindfulness, incluindo as atividades vivenciais de práticas guiadas de meditação.
De acordo com a docente, que é também instrutora certificada de Meditação e foi responsável pela gravação das sessões de meditação, “esta aplicação permite desenvolver um conjunto de técnicas baseadas em práticas milenares. A meditação tem efeitos a nível cerebral, diminuindo a atividade de áreas responsáveis por emoções exageradas e aumentando a atividade em áreas que controlam a função executiva. Passamos a estar mais no comando das nossas emoções”.
Ainda segundo Isaura Tavares, está demonstrado que “a meditação possibilita um maior autoconhecimento e um ajustamento das reações aos desafios. Embora exista, como num medicamento, uma relação dose-efeito, os benefícios podem fazer-se sentir a curto prazo”. As contraindicações incluem apenas algumas perturbações do foro psiquiátrico graves.
No caso de Ana Rita Soares, que já praticava meditação antes do curso, passou a fazê-lo de forma mais sistemática. “Para mim, tem sido uma grande mais-valia”, afirma.
Não por acaso, recorda Isaura Tavares, Matthieu Ricard, que pratica meditação, foi considerado “o homem mais feliz do mundo”, como mostraram investigadores da Universidade de Wisconsin, nos EUA, através de imagens do cérebro.
Este trabalho multidisciplinar, liderado por Isaura Tavares, incluiu também a professora de informática Sandra Soares e os psicólogos Tânia Brandão (William James Center for Research) e Ricardo João Teixeira (REACH – Mental Health Clinic e Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra).
No futuro, a equipa quer estabelecer parcerias para desenvolver uma versão final da aplicação e disponibilizá-la aos estudantes de Medicina nas lojas online (Google Play e App Store). Espera-se, desta forma, contribuir para que os estudantes de Medicina sejam, também eles, mais felizes. A ex-aluna também pondera integrar estes conhecimentos na sua área de especialização, a Hematologia Clínica.
Foto: DR.
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