Se gostas de ciclismo e de memes, é provável que tenhas visto a imagem sobre o Giro d’Italia 2025 que se tornou viral nas redes sociais — e não só.
A imagem, da autoria do CiclistaParvo, caricaturava o momento em que o ciclista belga Wout van Aert ajudou o britânico Simon Yates — ambos da equipa Visma | Lease-a-Bike — a dar uma reviravolta na classificação geral da famosa prova italiana. O meme mostrava Van Aert de bicicleta, a levar o "pequeno" Yates sentado numa cadeirinha de criança na parte de trás, aparentemente sem grande esforço, rumo à vitória.
Van Aert “rebocou” Yates durante a 20.ª etapa, permitindo-lhe recuperar tempo precioso face aos seus principais rivais: o mexicano Isaac del Toro (colega de João Almeida na UAE Team Emirates XRG), que até então liderava a geral e envergava a camisola rosa, e o equatoriano Richard Carapaz (da EF Education–EasyPost, equipa do português Rui Costa), que seguia no segundo lugar.
Este momento ficou marcado na história do ciclismo mundial, não só pela reviravolta épica conseguida através do trabalho de equipa, como também por ter ocorrido na temida subida ao Colle delle Finestre — onde, sete anos antes, Yates perdera a liderança da prova para Chris Froome. Foi, por isso, um desfecho particularmente emocional para o britânico, que conseguiu, finalmente, encerrar esse capítulo da sua carreira.
A imagem foi criada e publicada originalmente na página facebook.com/CiclistaParvo no dia 31 de maio e acabou por ser mostrada pelo diretor desportivo Marc Reef durante a reunião da equipa no autocarro, antes da derradeira etapa do Giro 2025, criando um momento divertido e de descompressão para todos.
O momento está registado no vídeo oficial da equipa publicado no YouTube — "THE DAY WE WON THE GIRO D’ITALIA! 💖🤩🥹 | RACE DAY" (por volta dos 2m45s) — e foi também partilhado pelo próprio Wout van Aert na sua conta oficial do Instagram, com mais de 1,2 milhões de seguidores.
A imagem foi, inclusive, transformada em arte pelo artista @FE.TTE no Instagram, figura muito conhecida no universo do ciclismo.
O meme acabou por transcender as redes sociais e o ciclismo, sendo destacado por meios internacionais como o MARCA (Espanha) e o Sporza (Bélgica), normalmente mais centrados no futebol.
Entrevistámos o CiclistaParvo em exclusivo para conhecer todos os pormenores desta história divertida
P. Quem é o CiclistaParvo?R. Acho que o nome diz tudo: sou um Ciclista... Parvo. Diria que sou um influencer de ciclismo, que cria e publica algumas imagens e posts parvos — alguns com humor (sobretudo para mim). Mas sou um influencer dos fraquinhos, daqueles com poucos seguidores e com influência quase nula. Quanto ao meu nome verdadeiro, prefiro manter o anonimato.
P. Quando surgiu o CiclistaParvo?
R. Criei a página no Facebook algures em 2020. Foi um ano peculiar, que trouxe mais coisas más ao mundo… como a COVID-19, por exemplo.
P. Qual foi a motivação para lançar o CiclistaParvo?
R. A motivação principal foi pessoal — queria fazer algo para me divertir. Muitas vezes gozo com situações que me acontecem a mim próprio. Ao publicar conteúdos, divirto-me. E se, no processo, conseguir fazer mais alguém rir, tanto melhor.
P. Como te inspiras? Como crias as imagens? Usas ferramentas de Inteligência Artificial?
R. Gosto muito de ciclismo, ando de bicicleta, acompanho as provas… e quando vejo coisas divertidas, tento criar algo à volta disso. Faço as imagens no computador, uso o Paint, o Bloco de Notas… às vezes recorro a ferramentas de Inteligência Artificial, mas não chegam. Tenho sempre de adicionar bastante Parvoíce Real.
P. Qual é o modelo de negócio do CiclistaParvo?
R. Se a pergunta é como ganho dinheiro com isto, a resposta é: não ganho (pelo menos para já). Tenho algumas parcerias de promoção mútua com sites como o BikeMarket.pt, o BikeToday.news e o AutoAds.pt, onde os meus conteúdos são divulgados. Mas retorno financeiro, zero. Aliás, é uma história curiosa… Quando me abordaram para essas colaborações, disseram que ia trabalhar "pro bono" e eu pensei: “Bem, até nem gosto dos U2, mas se isto me der alguma notoriedade e uns trocos, bora lá”. Só depois percebi que "pro bono" queria mesmo dizer "de borla". Mas tudo bem — ganhei visibilidade e presença em sites de referência, o que já é bom.
P. Com tanto mediatismo, têm surgido propostas de colaborações pagas?
R. Não. As empresas, marcas, atletas e equipas ainda não perceberam bem o potencial do humor e da parvoíce na comunicação e no marketing. Mas acredito que, um dia, seguirão o exemplo da equipa Visma. E eu cá estarei para ajudar. A maioria das marcas paga a influencers para falarem muito bem dos seus produtos… Eu posso ficar com o outro nicho: as marcas podem pagar-me para gozar com os seus produtos — ou com os da concorrência. O humor vende!
P. A equipa Visma | Lease-a-Bike contactou-te acerca da imagem?
R. Não. Usaram-na, partilharam-na, riram-se… mas provavelmente nem sabem de onde veio nem quem a criou. Mas não faz mal. Eu diverti-me imenso a criar aquela imagem — e ainda mais ao vê-la a ser mostrada no autocarro da equipa e a reação de todos. Ficou registado no vídeo deles. Foi também especial porque o Wout van Aert acabou por rebocar e ajudar outro colega na última etapa. Talvez a minha imagem tenha servido como inspiração para a estratégia… Se calhar, fui mesmo um influencer a sério!
P. O que podemos esperar do CiclistaParvo no futuro? O que esperas alcançar?
R. Vou continuar a publicar parvoíces, como tenho feito até agora. Quanto ao futuro… Tal como muitos ciclistas, adorava estar na Volta à França — mas não a pedalar! Gostava que os meus memes chegassem ao Tour, tal como chegaram ao Giro, e que mais pessoas se rissem (ou chorassem) com eles. Talvez consiga inspirar outra equipa, ou motivar ciclistas de alguma forma. O ciclismo é um desporto duríssimo, de grande sofrimento… e quando as etapas acabam, é preciso relaxar. Se um ou dois memes puderem ajudar nisso, já valeu a pena. Gostava também de ganhar algum dinheiro com isto — já tentei pagar a mercearia e outras despesas diárias com likes, mas, por enquanto, ninguém aceita esse método de pagamento.