Na missão de entregar ajuda vital em zonas de conflito e regiões afetadas por catástrofes, o veículo todo-o-terreno Sherp está a ser transformado com inovações de grau espacial graças ao projeto AHEAD (Autonomous Humanitarian Emergency Aid Devices).
Sensores e câmaras, semelhantes aos usados em robôs exploradores de Marte, permitem que estes veículos todo-o-terreno naveguem com precisão. Esta colaboração, em parceria com o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (WFP), está prevista continuar até 2029.
O Centro Aeroespacial Alemão (DLR – Deutsches Zentrum für Luft- und Raumfahrt) colabora com o WFP há quase 20 anos, aplicando tecnologia espacial em missões humanitárias, mas o projeto AHEAD é o seu maior desafio até hoje.
“Desde o início da nossa cooperação em 2019, temos trabalhado intensamente na gestão de frotas, veículos autónomos, drones, geoinformação, prevenção e previsão da fome”, explica a Professora Kaysser-Pyzalla, CEO do DLR. “O foco tem sido a transferência mútua de conhecimento e tecnologia.”
O Sherp modificado pelo DLR, equipado com tecnologia espacial desenvolvida pelo seu Instituto de Robótica e Mecatrónica, é um veículo anfíbio e todo-o-terreno capaz de superar obstáculos de até um metro, águas, pântanos e terrenos difíceis. Os sensores em tempo real e o controlo remoto, inspirados na exploração espacial, tornam-no único no seu género.
O Sherp original, concebido pela empresa ucraniana Quadro International, é já conhecido pela sua robustez e capacidade de enfrentar os terrenos mais difíceis do planeta. Utilizado por geólogos, trabalhadores petrolíferos, equipas de resgate e aventureiros, o Sherp destaca-se pela sua capacidade de transitar da água para o gelo e pelo sistema patenteado que ajusta automaticamente a pressão dos pneus para garantir tração ideal.
Armin Wedler, gestor do projeto AHEAD no DLR, explica: “Este conceito permitirá operar veículos robóticos remotamente em ambientes intransitáveis, como no Sudão do Sul, possibilitando a telepresença numa zona segura para completar a parte mais perigosa do percurso.”
A tecnologia espacial do DLR está já a ser aplicada em países como Moçambique e Quénia, onde os Sherps estão a revolucionar a entrega de ajuda humanitária. Face ao aumento da fome devido a conflitos, alterações climáticas e desastres naturais, a tecnologia espacial oferece uma solução vital, reduzindo riscos para os condutores, que enfrentam ameaças crescentes como ataques armados e infraestruturas destruídas.
Kyriacos Koupparis, chefe da Frontier Innovations no WFP, salienta: “Muitas operações decorrem em ambientes de alto risco, como zonas de conflito ou de instabilidade. Apesar dos tratados contra minas terrestres e esforços de desminagem, os incidentes fatais continuam a ocorrer, colocando em perigo as equipas humanitárias.”
O projeto AHEAD permite que a entrega de alimentos e suprimentos seja feita remotamente, minimizando riscos e custos em comparação com lançamentos aéreos. Stephen Cahill, diretor de logística do WFP, reforça: “Para alcançar a meta Fome Zero, o WFP deve aceder às populações mais difíceis de alcançar, seja por barreiras naturais, seja por conflitos.”
Esta iniciativa integra o programa ‘Humanitarian Technologies’ do DLR, que adapta tecnologias espaciais para responder às crises na Terra, incluindo a utilização de inteligência artificial para prever a segurança alimentar com 60 dias de antecedência.