A Diamond Aircraft, fabricante de referência mundial na aviação geral, está a liderar um projecto inovador financiado pela FFG – Agência Austríaca para a Promoção da Investigação, com o objetivo de explorar o potencial do hidrogénio gasoso como fonte de energia para sistemas híbridos de propulsão na aviação. O projecto, denominado H2EDT (Hydrogen-based Twin-engine Electrification and Digitalization Testbed), reúne um consórcio de investigação que inclui a FH JOANNEUM, a Universidade Técnica de Graz (TU Graz), o HyCentA e o IESTA.
Ao longo de 2025, os trabalhos de fabrico e ensaio decorrerão nas instalações da Diamond Aircraft em Wiener Neustadt, com foco na concepção de uma plataforma experimental híbrida que permitirá investigar os principais desafios do uso do hidrogénio como combustível aeronáutico.
O hidrogénio é considerado um combustível com zero emissões de carbono, podendo ser utilizado em células de combustível – onde se gera energia através de reações electroquímicas entre hidrogénio e oxigénio, produzindo apenas vapor de água – ou em motores de combustão interna. Em ambas as soluções, não se produz dióxido de carbono, embora a combustão em altas temperaturas possa gerar, em certos casos, óxidos de azoto (NOx).
As células de combustível de baixa temperatura, pelas suas características silenciosas e não poluentes, têm vindo a ganhar destaque não só na indústria automóvel e marítima, mas também em aplicações aeronáuticas. Além disso, os sistemas a hidrogénio oferecem uma maior densidade energética em comparação com soluções puramente eléctricas, permitindo maior alcance e autonomia.
No entanto, a utilização exclusiva de hidrogénio na propulsão de aeronaves apresenta desafios significativos, incluindo:
- A baixa relação potência-peso das células de combustível,
- A necessidade de armazenamento volumoso devido à baixa densidade do hidrogénio,
- As exigências de segurança e certificação, relacionadas com a inflamabilidade, fugas e pressões elevadas ou armazenamento criogénico.
Para mitigar estas limitações, o consórcio está a desenvolver uma arquitetura híbrida hidrogénio-eléctrica, que conjuga a elevada densidade de potência das baterias com a elevada densidade energética do hidrogénio, criando também redundância operacional.
O banco de ensaios (testbed) será uma plataforma à escala baseada na aviação geral e integrará uma fuselagem, baterias independentes, células de combustível, sistema de armazenamento de hidrogénio e até 10 motores e hélices eléctricos. Inicialmente pensado para simular a propulsão típica de uma aeronave bimotora, o projecto foi adaptado para suportar testes numa plataforma VTOL (descolagem e aterragem vertical), respondendo ao crescente interesse na Mobilidade Aérea Avançada.
O H2EDT propõe uma abordagem holística à gestão energética e recuperação de calor, analisando a performance e fiabilidade das células de combustível e dos sistemas de armazenamento e distribuição de hidrogénio na aviação.
O sistema distingue-se pela sua gestão digital de energia, com um quadro de distribuição desenvolvido pela FH JOANNEUM e uma arquitetura híbrida “paralela”, permitindo que baterias e células de combustível alimentem qualquer motor de forma independente. Esta solução inteligente combina fontes de energia conforme necessário, aumentando significativamente a eficiência e a segurança.
Outro pilar essencial do projecto é o desenvolvimento de um gémeo digital (digital twin), integrando modelos CAD detalhados e simulações de desempenho elaboradas com a TU Graz. Este modelo será calibrado com dados reais e permitirá simular falhas e condições ambientais extremas, como voos a grande altitude ou em climas muito quentes.
O consórcio pretende ainda estabelecer guias de certificação e design para futuros projectos de aeronaves em escala real, como os modelos DA40 ou DA42, tendo em consideração os desafios específicos associados à tecnologia de hidrogénio.
Este novo projecto representa mais um marco significativo para a Diamond Aircraft na investigação de soluções sustentáveis de propulsão. Entre os projectos anteriores destacam-se a integração de células de combustível num Diamond HK36 pela Boeing Phantom Works, a participação no estudo AH2AS (Austrian Hydrogen Aviation Study) e colaborações como a conversão de um motor diesel para combustível dual Jet-A1/H2, em parceria com a TU Wien e a Austro Engine.
A apresentação dos resultados do projecto H2EDT está prevista para o primeiro semestre de 2026.
O projecto conta com financiamento do programa Take Off, o programa austríaco de apoio à Investigação, Tecnologia e Inovação, gerido pela Agência Austríaca para a Promoção da Investigação (FFG) e promovido pelo Ministério da Inovação, Mobilidade e Infraestruturas da República da Áustria (BMIMI).
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