Press Release: Esta é uma chamada de atenção para a importância da prevenção!
José Gomes Ferreira escreveu: “Pois não era mais humano morrer por um bocadinho, de vez em quando, e recomeçar depois, achando tudo mais novo?”.
E quem nunca se deparou com esta vontade incessante? É exemplo disto o caso do jovem Papageno, n’A Flauta Mágica: quando a (des)esperança o assolou, após perder o seu amor, este acreditava que o suicídio era a única forma de aliviar o seu sofrimento. Nesse entretanto, surgiram três rapazes que lhe mostraram uma alternativa, evitando, enfim, o comportamento suicidário.
O conceito de suicídio é definido como um ato deliberado de causar dano em si próprio por quem sabe e/ou espera ser fatal. A sua intervenção requer uma verdadeira compreensão e adequação, dado ser um fenómeno complexo e multifatorial.
Esta denominação tem sido utilizada como termo chapéu que abrange:
- Comportamentos Autolesivos, muitas vezes definido por um comportamento deliberada de autolesão, sem intenção suicida;
- Ato suicida, correspondente ao(s) suicídio(s) consumado(s) e/ou tentativa(s); e, por fim,
- Ideação suicida, correspondente à presença de um espetro de pensamentos que digam respeito ao termo à vida pelo/a próprio/a.
Apesar das diferentes conceptualizações teóricas, a literatura é concordante com o facto de ambos serem indicadores do estado da saúde mental (Hendin, 1982), que resultam da necessidade de cessar o sofrimento psicológico em detrimento do desejo de morrer. Na sequência do acima referido, apesar de ser determinado como um fenómeno multifatorial o ser-humano, instintivamente, procura uma explicação ou uma relação causalista para o mesmo. Perante isto, estudos empíricos procuram identificar um conjunto de características, nomeadamente: características sociodemográficas (área de residência geográfica; ser-se reformada/o ou em situação profissional de desemprego; problemas financeiros; predisposição genética; doença crónica, dolorosa e/ou incapacitante; perturbação do uso de álcool; outras tentativas no passado; acesso a meios letais.
Considera-se que a ingressão no meio universitário poderá indiciar um ambiente onde a taxa de suicídio possa ser mais elevada na população estudantil, em comparação à população não universitária (Hendin, 1982). Sobretudo, os eventos stressores, que caracterizam o contexto académico, nomeadamente a visão negativa sobre si próprio/a, a respetiva valorização pessoal e sentimento de rejeição, contribuem para o aumento das tentativas de suicídio entra a camada mais jovem (Schotte & Clum, 1982).
É igualmente importante reformular que a nomeada “chamada de atenção” é, na realidade, um alerta para a atenção da não satisfação de necessidades individuais. Além disso, a impulsividade poderá implicar atuação para o comportamento autolesivo, suicidiário, ou ideação suicida (Baumeister, 1990) e, por tal, deverá ser tido em especial consideração.
No que aos comportamentos autolesivos diz respeito, os sinais de alerta poderão ser identificados de acordo com o Manual de Comportamentos Autolesivos e Suicidários na Adolescência:
- Marcas inexplicáveis no corpo (cortes, queimaduras, hematomas), muitas vezes localizadas em áreas fáceis de esconder, como braços, coxas ou abdómen, e uso constante de roupas compridas para ocultar lesões);
- Alterações súbitas no comportamento ou humor, como: irritabilidade ou ansiedade constante; Isolamento social; Coleção de objetos potencialmente perigosos (lâminas, facas, fósforos);
- Referências a sentimentos de vazio, desesperança ou desespero. Histórico de baixa autoestima ou autocrítica severa;
Em caso de presenciar ideação ou tentativa de suicídio, sugerem as seguintes recomendações a ter em consideração:
- Avaliação da Situação. Mantenha a calma e avalie o risco imediato. Verifique se a pessoa está em perigo físico imediato e se precisa de ajuda médica.
- Segurança em Primeiro Lugar. Se possível, remova objetos perigosos do ambiente (ferramentas cortantes, medicamentos, armas, etc.). Nunca se coloque em risco para ajudar; procure apoio se necessário.
- Comunicação Clara e Empática. Falar com a pessoa de forma calma e compreensiva. Evitar julgamentos e frases que minimizem o sofrimento dela, como "vai ficar tudo bem" ou "você só precisa ser forte". Em vez disso, diga: "Eu estou aqui para te ouvir", "Você não está sozinho(a)" ou "Vamos encontrar uma forma de superar isso juntos.”
- Escuta Ativa. Ouvir sem interromper, permitindo que a pessoa expresse seus sentimentos, mesmo não compreendendo completamente.
- Ação e Apoio Prático. Se a situação for crítica, não hesite em chamar ajuda profissional (ambulância, polícia ou serviços de emergência). Se possível, acompanhar a pessoa até que os profissionais de saúde cheguem.
- Cuide de Si Mesmo. Apoiar alguém em uma situação de crise pode ser emocionalmente desgastante. Não se esqueça de procurar, também, o seu próprio apoio, se necessário.
- Conexão Contínua. Em caso de manter uma relação próxima à pessoa, recomenda-se, mesmo após a situação de crise, manter o contato e apoio contínuo.
- Respeito à Privacidade e Confidencialidade. Tratar a situação com respeito e sensibilidade. Evitar partilhar detalhes sem o consentimento da pessoa envolvida, a menos que seja para a segurança dela.
De maneira a mitigar os desafiados alusivos ao contexto académico, o Centro Médico do Estádio Universitário da Universidade de Lisboa (U.L.) vem concretizando algumas boas práticas de caráter preventivo que poderão ser consultados através do site do Programa de Saúde e Bem Estar da Universidade de Lisboa.
Pretende-se, assim, uma instituição académica que continue a investir no reconhecimento das necessidades emocionais de todas/os, visando o próspero aumento da sua capacidade de resposta preventiva e não remediativa. Considera-se ainda que a prevenção e a promoção de um ambiente universitário atento que atenue o nível de sofrimento psicológico sem minimizar ou desvalorizar a expressão emocional da sua população, são estratégias eficazes.
De acordo com informação do Instituto Nacional de Estatística, deverá haver um maior investimento nesta área da saúde, um vez que o número de consultas, em comparação com a taxa de suicídio, bem como o número de profissionais de saúde mental sugere que a falta destes recursos em algumas regiões leva a valores mais elevados na taxa de suicídio.
Por fim, apela-se ao compromisso na valorização da saúde mental e do bem-estar que, por conseguinte, se traduzirá no sucesso académico almejado por toda a Universidade de Lisboa.
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