Imagem: Juan Pablo Serrano na Pexels.
A adolescência é uma fase marcada por grandes mudanças. De um momento para o outro, os filhos que antes procuravam a companhia dos pais começam a afastar-se, fecham-se nos seus quartos, trocam conversas à mesa por interações no telemóvel e parecem viver num mundo à parte. Se antes as famílias partilhavam momentos juntos, agora muitos pais sentem que estão a perder os filhos para um universo digital onde o tempo passa sem que eles se apercebam.A tecnologia trouxe inegáveis benefícios e transformou a forma como comunicamos, mas também criou barreiras invisíveis dentro das próprias casas. Muitos adolescentes passam horas colados a ecrãs, seja nas redes sociais, em videojogos ou em plataformas de streaming, muitas vezes sem consciência do tempo que estão a desperdiçar. O que poderia ser uma ferramenta de ligação ao mundo tornou-se, para muitos, um fator de isolamento, afastando-os das relações familiares e das experiências reais que moldam a vida.
Para os pais, assistir a este afastamento pode ser frustrante e doloroso. A sensação de impotência cresce à medida que tentam conversar e receber apenas respostas monossilábicas, sugerem atividades em família e são ignorados, tentam impor limites e encontram resistência. Muitos lembram-se da sua própria adolescência, quando o desejo de independência também existia, mas percebem que algo mudou. No passado, os encontros com amigos eram presenciais, as distrações tinham limites naturais e o tempo livre ainda era passado em convívio com a família. Hoje, o digital oferece um fluxo infinito de estímulos, tornando difícil para os jovens desligarem-se.
O problema não está apenas no afastamento dos pais, mas também na forma como o tempo online impacta o bem-estar dos adolescentes. Passar horas a ver conteúdos irrelevantes, a comparar-se com vidas aparentemente perfeitas nas redes sociais ou a responder a notificações constantes pode gerar ansiedade e afetar a autoestima. Muitos jovens, sem se darem conta, vivem pressionados pela necessidade de estarem sempre presentes no mundo digital, com medo de perderem algo importante ou de ficarem para trás.
Enquanto isso, os momentos reais – aqueles que constroem memórias e fortalecem os laços – passam despercebidos. Os jantares em família tornam-se silenciosos, os passeios deixam de ter interesse, as conversas profundas e espontâneas tornam-se raras. A adolescência é uma fase passageira e, embora os filhos só percebam isso mais tarde, os pais sabem que o tempo não volta atrás. Aqueles momentos simples, como uma refeição partilhada ou uma tarde passada juntos, serão as memórias que um dia farão falta.
Muitos pais questionam-se sobre o que podem fazer para inverter esta situação. Não é fácil competir com um mundo digital desenhado para prender a atenção, mas é possível criar hábitos que resgatem a conexão. O primeiro passo é estabelecer momentos livres de tecnologia, sem imposições exageradas, mas com o objetivo de valorizar a presença uns dos outros. Jantares sem telemóveis, atividades ao ar livre, noites de cinema em casa sem distrações digitais podem parecer pequenos gestos, mas fazem uma grande diferença.
Outro ponto essencial é o exemplo. Se os pais passam grande parte do tempo agarrados ao telemóvel, dificilmente podem esperar que os filhos façam diferente. Criar um ambiente onde o contacto humano é valorizado ajuda a reforçar a importância do equilíbrio. Além disso, demonstrar interesse pelos gostos dos adolescentes, perguntar sobre os jogos que jogam, os vídeos que vêem ou os influenciadores que seguem pode ser uma forma de iniciar um diálogo e entrar no mundo deles sem julgamentos.
Conclusão
Não se trata de demonizar a tecnologia ou impor restrições rígidas, mas sim de ensinar que a vida real acontece fora dos ecrãs. Os adolescentes precisam de perceber que o tempo é um recurso precioso e que as horas passadas online não podem substituir as experiências que os fazem crescer. O grande desafio dos pais não é afastá-los do digital, mas sim mostrar-lhes que, no meio da correria do dia a dia e do infinito mundo virtual, os momentos mais importantes são aqueles que se vivem lado a lado, com quem realmente importa.
