Nos últimos anos, tornou-se evidente que a Meta, empresa mãe do Facebook, Instagram, WhatsApp, etc, longe de ser uma plataforma imparcial de conexão e partilha, utiliza os seus algoritmos para manipular os conteúdos que os utilizadores veem. Esta prática não apenas molda as opiniões e decisões do público, mas também prejudica pequenos negócios e criadores de conteúdo, que muitas vezes se veem obrigados a pagar para alcançar os seus próprios seguidores. Esta é uma fraude disfarçada de estratégia comercial, e a sua dimensão levanta preocupações sérias sobre transparência e ética digital.
Como o Algoritmo Escolhe o Que Você Vê
O Facebook, tal como outras plataformas digitais, opera através de algoritmos que determinam quais conteúdos aparecem no seu feed. Em teoria, este mecanismo deveria garantir que os utilizadores veem o que mais lhes interessa. No entanto, a prática é bem diferente: o algoritmo prioriza conteúdos que geram mais interações (likes, partilhas e comentários), mas, ao mesmo tempo, limita o alcance de publicações orgânicas, especialmente aquelas de páginas comerciais ou de pequenos criadores.
Empresas que utilizam o Facebook para divulgar produtos ou serviços notam frequentemente que as suas publicações alcançam apenas uma fração mínima dos seus seguidores. O motivo? O Facebook quer forçar essas empresas a pagarem por anúncios ou promoções, tornando-se, na prática, uma plataforma "pay-to-play" (pague para participar).
A Extorsão Disfarçada
O Facebook oferece uma audiência massiva e promessas de conexão com milhões de potenciais consumidores, mas cobra caro por isso. Pequenas empresas que investem tempo e recursos para criar uma base de seguidores percebem que, sem pagar, o alcance das suas publicações será drasticamente reduzido. Muitas vezes, publicações alcançam apenas 1-5% dos seguidores de uma página.
Esta estratégia coloca pequenas empresas em desvantagem. Enquanto gigantes corporativos conseguem investir milhões em publicidade paga, os pequenos negócios não têm escolha a não ser lutar com margens de lucro mais reduzidas para financiar campanhas no Facebook que mesmo a pagar, não resultam.
Isto cria um ciclo vicioso: as empresas são incentivadas a pagar para que o seu conteúdo seja visto, e ao fazê-lo, legitimam o modelo de negócios opaco do Facebook. No entanto, o problema não afeta apenas empresas. Criadores de conteúdo, jornalistas e organizações não lucrativas também enfrentam o mesmo obstáculo, com as suas mensagens sendo suprimidas ou relegadas ao esquecimento.
A Falta de Regulamentação
Apesar de ser uma prática amplamente visível, poucos governos ou entidades reguladoras intervieram de forma eficaz contra este modelo. O poder e a influência do Facebook – agora parte do conglomerado Meta – garantem-lhe uma posição dominante no mercado global. Qualquer tentativa de regulação enfrenta não apenas dificuldades técnicas, mas também o peso do lobby político e financeiro que a empresa exerce.
As promessas de maior transparência nunca resultam em mudanças significativas. O utilizador comum é deixado sem escolhas, sendo manipulado por um algoritmo cuja lógica permanece um segredo guardado a sete chaves.
O Efeito na Sociedade
A manipulação de conteúdos pelo Facebook não é apenas um problema para empresas; é uma questão social e democrática. Ao filtrar o que os utilizadores veem com base em interesses comerciais, a plataforma molda opiniões, polariza debates e limita a pluralidade de vozes. Conteúdos independentes ou alternativos têm dificuldade em alcançar visibilidade, enquanto mensagens patrocinadas – muitas vezes enganosas – ocupam os lugares de destaque.
O Facebook já enfrentou várias acusações de favorecer desinformação e discursos extremistas, porque estes geram mais interações, e, consequentemente, mais lucro. Mas enquanto estas questões recebem alguma atenção mediática, a manipulação comercial do algoritmo continua a ser um problema negligenciado.
O Que Pode Ser Feito?
Embora seja quase impossível combater gigantes como o Facebook, há medidas que podem ser tomadas:
- Exigir Transparência: Reguladores e utilizadores devem pressionar o Facebook a explicar claramente como os seus algoritmos funcionam.
- Apoiar Alternativas: Promover plataformas mais transparentes e éticas, que não priorizem o lucro à custa do utilizador.
- Educar os Utilizadores: Tornar o público mais consciente de como os algoritmos manipulam os seus comportamentos.
- Legislação Mais Forte: Os governos precisam de criar leis que impeçam práticas abusivas e promovam a competição justa no mercado digital.
Conclusão
O Facebook transformou-se de uma plataforma social em uma máquina de lucros que manipula os utilizadores e prejudica quem não pode pagar. Apesar de ser uma fraude evidente, continua impune, protegida pelo seu poder financeiro e influência global. O desafio agora é garantir que empresas, criadores e utilizadores possam coexistir num ambiente digital mais justo, transparente e ético. Mas para isso, é necessária uma mobilização coletiva contra os interesses dos colossos.