Press Release: Projeto criou uma alternativa biodegradável às embalagens plásticas de gel de banho, desenvolvendo cápsulas de dose única que reduzem a poluição plástica nos oceanos.
A inovação não tem idade e a comprovar isso mesmo está uma equipa de quatro alunos da Escola Secundária da Maia, no Porto, que em conjunto com três investigadoras do Departamento de Engenharia Química e Biológica (DEQB) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), desenvolveu uma solução que substitui o gel de duche acondicionado numa embalagem de plástico por cápsulas biodegradáveis e hidrossolúveis.
A ideia concebida por Nuno Aroso, Isabel Oliveira, Maria Toga e Vasco Cardoso, os “pais” da cápsula Clea – Clean Choice, Clean Change, um gel de dose única que se dissolve enquanto tomamos banho, foi o único projeto português distinguido com uma bolsa Slingshot da National Geographic Society em 2025.
Tudo começou numa aula de química, onde pediram a estes alunos do 12.º ano para desenvolver um projeto inovador, o que levou os quatro a procurar uma solução que reduzisse a quantidade de plástico que é desperdiçada na área dos cosméticos.
Cientes de que o produto a desenvolver não poderia ser um corte radical com os hábitos dos consumidores, pensaram na melhor forma de adaptar algo que já tivesse amplamente implementado no mercado. “Já existe um gel de banho sólido, e muita gente não o usa porque não gosta da textura. O interior das nossas cápsulas é líquido, ou seja, aproxima-se mais do que os clientes já estão habituados a usar”, disse Nuno Aroso, em declarações publicadas na edição de agosto de 2025 da revista National Geographic Portugal.
Em matéria de encapsulamento, já existem várias soluções eco-friendly na área alimentar e na da saúde, mas não na dos cosméticos. “É aí que nós nos destacamos, por apresentarmos o melhor dos dois mundos: a sustentabilidade e a forma tradicional dos cosméticos”, assegura Isabel Oliveira.
Não esquecendo que estavam numa disciplina de química, partiram para a experimentação: “Tivemos de criar a nossa própria formulação. Tentámos com o alginato de sódio, que é extraído das algas marinhas e, por ser já usado na medicina, sabemos que é seguro para a pele e para o ambiente. Depois de várias experiências com vários tipos de materiais, chegámos ao nosso produto, incluindo na solução cloreto de cálcio.”
No futuro, os quatro maiatos esperam vender a cápsula para marcas já existentes no mercado e “escalar o produto”, estendendo a marca Clea a várias áreas de cosméticos, como os champôs, os amaciadores e os cremes. Para já, estão a tratar do registo da ideia e da marca, sendo que o regresso ao laboratório da FEUP está para breve. Quem sabe se, numa das próximas vezes, já como estudantes universitários ou com um novo prémio no currículo.
A FEUP como parceira para a materialização da ideia proposta
Nuno Aroso admite que, sem a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), tudo teria sido mais difícil, sobretudo a materialização do produto: “Para desenvolver as cápsulas, mandámos e-mails para a FEUP. Eles acharam interessante a nossa ideia e então começámos a colaborar com três investigadoras do Departamento de Engenharia Química e Biológica e vamos lá todas as sextas-feiras para melhorar o nosso produto.”
Até chegarem a esta solução química, houve muita tentativa-erro. “Usámos vários tipos de materiais. Tentámos, por exemplo, fazer extrusões com óleo, só que chegámos à conclusão de que ou não eram 100% benéficos para o ambiente ou que a cápsula não era tão eficaz.”
Na FEUP, os quatro estudantes foram orientados por Cláudia Gomes da Silva, Isabel Martins e Yaidelin Manrique, investigadoras do Laboratório de Processos de Separação e Reação – Laboratório de Catálise e Materiais (LSRE-LCM), numa ligação entre instituições que remonta a 2019. “No ano letivo de 2019/20 fui contactada por um grupo de alunos da Escola Secundária da Maia com interesse em desenvolverem um projeto de iniciação à investigação na FEUP. No seguimento desse contacto estabeleceu-se um protocolo entre a FEUP e o Agrupamento de Escolas da Maia, visando a promoção deste tipo de projetos. Desde essa altura observou-se um aumento substancial de solicitações a cada ano que passa, resultado do incentivo dos professores e do entusiasmo dos alunos em desenvolverem este tipo de atividades extracurriculares”, diz Cláudia Gomes da Silva.
De acordo com a Professora Auxiliar do Departamento de Engenharia Química e Biológica, este projeto premiado volta a estar centrado numa grande preocupação com a sustentabilidade dos processos. “Este projeto visa desenvolver cápsulas biodegradáveis e hidrossolúveis contendo unidoses de gel de banho em alternativa à utilização de embalagens de plástico. Da ideia passou-se já a um protótipo que tem ganho diversos prémios em eventos ligados ao empreendedorismo jovem, o que tem motivado a equipa a estender a utilização dessas cápsulas a outros produtos da área da cosmética. Este protocolo vigente tem fomentando a ligação escola-universidade-sociedade através do desenvolvimento projetos com elevado nível de inovação e com fortes preocupações ao nível da sustentabilidade”.
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