i3S em Consórcio Para Criar Vacina Contra Vírus Transmitidos por Mosquitos

Press Release: Trata-se de uma vacina de largo espectro contra dengue, Zika, febre amarela, vírus do Nilo Ocidental e outros flavivírus que causam mais de 100 mil mortes anualmente.

Especialistas de virologia, imunologia, biotecnologia e saúde pública de dez instituições de sete países europeus e dos Estados Unidos juntaram-se para, nos próximos três anos, desenvolverem uma vacina inovadora, designada Flavivaccine, contra flavivírus transmitidos por mosquitos com potencial epidémico, como o dengue, o Zika, a febre amarela e o vírus do Nilo Ocidental.

O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) é o parceiro português deste consórcio internacional, coordenado por Julien Pompon, do Instituto de Investigação para o Desenvolvimento (IRD), de Montpellier, França, no âmbito de um projeto financiado com mais de oito milhões de euros pela União Europeia através do programa HORIZON-RIA – Research and Innovation Actions.

O i3S foi convidado a juntar-se como «membro de excelência» na sequência do concurso “HopON” da Comissão Europeia, devido à experiência do grupo liderado por Joana Tavares em infeções transmitidas por mosquitos, e irá receber 540 mil euros para desenvolver a sua participação.

Nesta altura, estima-se que estas doenças (dengue, Zika, febre amarela e vírus do Nilo Ocidental) afetem anualmente cerca de 500 milhões de pessoas e causem mais de 100 mil mortes em todo o mundo. Mas, devido ao aquecimento global, os habitats dos mosquitos vetores (Aedes e Culex) estão a expandir-se para a Europa e para a América do Norte e o risco de surtos e epidemias de flavivírus tem vindo a aumentar de forma significativa. Quase toda a população humana está em risco de infeção por flavivírus, pelo que é urgente agir preventivamente e antecipar estratégias de vacinação, antes que as epidemias sejam cada vez maiores e mais frequentes e evoluam para pandemias.

«Atualmente não existem vacinas eficazes contra vários flavivírus transmitidos por mosquitos com potencial pandémico e, nos casos em que estas existem (como a vacina contra o dengue), têm muitas vezes limitações em termos de segurança, eficácia ou acessibilidade», explica a investigadora do i3S e Professora Auxiliar do ICBAS, Joana Tavares, que vai liderar a equipa portuguesa. O Flavivaccine, garante, «tem potencial para resolver estas questões, proporcionando uma plataforma segura, eficaz, flexível e de rápida aplicação».

Segundo Joana Tavares, esta proposta de vacina é de largo espetro e oferece uma abordagem preventiva alargada e mais segura, atuando na fase inicial da infeção resultante do contacto com o mosquito. O Flavivaccine tem como alvo componentes da saliva do mosquito. No final do projeto, garante a Investigadora, «pretendemos ter uma vacina candidata pronta para entrar em desenvolvimento clínico».

Além dos flavivírus já conhecidos, o consórcio internacional vai acompanhar de perto o potencial de emergência de novos vírus ainda não caracterizados, que podem representar futuras ameaças à saúde pública. «O nosso projeto centra-se no combate à ameaça global dos flavivírus, nomeadamente a dengue, a febre amarela, o Zika e o Nilo Ocidental, mas a vacina também tem potencial para proteger contra outros flavivírus, incluindo a encefalite japonesa», sublinha a investigadora.

Além disso, acrescenta Joana Tavares, «os flavivírus são particularmente propensos a mutações, o que aumenta a sua capacidade de saltar de uma espécie hospedeira para outra. Esta particularidade, combinada com os extensos reservatórios animais e os habitats em expansão dos seus vetores (como os mosquitos e as carraças), criam as condições ideais para o aparecimento de novos flavivírus, pelo que é necessário monitorizar todos os que conhecemos e que têm potencial para causar surtos e desenhar uma estratégia de vacinação capaz de se adaptar a um vasto número de vírus que ainda não conhecemos, mas que podem rapidamente emergir e conduzir a epidemias».

A consolidação de esforços numa única vacina contra múltiplos flavivírus transmitidos por mosquitos com potencial epidémico não só racionaliza a proteção das populações e reduz o número de hospitalizações, como alivia a pressão sobre os sistemas de saúde, diminuindo o impacto económico e social das doenças transmitidas por mosquitos, cujo custo anual ultrapassa os nove mil milhões de euros a nível global.

O i3S faz parte deste consórcio com uma equipa que integra três grupos de investigação: «Host-Parasite Interactions», liderado por Joana Tavares, «Gene Regulation», liderado por Alexandra Moreira, e «Nanomedicines & Translational Drug Delivery», liderado por Bruno Sarmento.

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