Press Release: Projeto liderado pela investigadora do i3S promete "ultrapassar os atuais limites do conhecimento" na busca de novas terapias para lesões na espinhal medula em humanos.
A cientista Mónica Sousa, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) foi uma dos cinco investigadores portugueses distinguidos este ano pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC – European Research Council, em inglês),com uma ERC Advanced Grant no valor de 2,5 milhões de euros. Nos próximos cinco anos, a investigadora vai procurar novas terapias para lesões na espinhal medula em humanos.
“Sinto-me muito orgulhosa e lisonjeada por receber a Advanced Grant do European Research Council. Este reconhecimento irá permitir explorar questões científicas desafiantes, que de outra forma não conseguiríamos abordar”, afirma Mónica Sousa.
Para a investigadora do i3S, ter conquistado esta bolsa milionária significa também “um reconhecimento da dedicação e talento dos membros da minha equipa, passados e atuais, e sublinha a relevância do nosso trabalho. Embora sinta o peso desta distinção, estou muito entusiasmada por dar este próximo passo e continuar a alargar as fronteiras do conhecimento científico”.
Um novo modelo para estudar as lesões na espinhal medula
Recentemente a equipa de Mónica Sousa, descobriu que, ao contrário do que acontece nos humanos e na maioria dos mamíferos, o rato-espinhoso (Acomys cahirinus) possui a capacidade única de regenerar espontaneamente a espinhal medula após uma lesão, evitando a formação de cicatrizes que bloqueiam a recuperação funcional.
Esta descoberta, que desafia décadas de conhecimento científico e posiciona o Acomys como um modelo extraordinário para estudar regeneração do sistema nervoso central (SNC), está na base do projeto CORDheal, agora distinguido pelo Conselho Europeu de Investigação com uma Advanced Grant.
Quando ocorre uma lesão na espinhal medula, explica a investigadora, «a comunicação entre o cérebro e o resto do corpo é interrompida, resultando frequentemente em paralisia irreversível. De uma forma geral, isto deve-se à incapacidade dos axónios — longas extensões das células nervosas responsáveis pela transmissão de informação — em ultrapassar o tecido cicatricial que se forma após a lesão, impossibilitando o restabelecimento de ligações».
Uma vez que o rato-espinhoso possui a extraordinária capacidade de regenerar espontaneamente a espinhal medula, a equipa liderada por Mónica Sousa pretende mapear os processos celulares e moleculares envolvidos na regeneração única desta espécie de mamífero, comparando a medula lesionada de Acomys com a de Mus musculus (o ratinho comum, incapaz de regenerar), através de análises avançadas, célula a célula.
Este estudo, sublinha, “permitirá identificar as populações de células e as vias moleculares responsáveis pelo fenómeno de recuperação no Acomys com o objetivo de abrir caminho para novas terapias para lesões medulares em humanos”.
De acordo com a investigadora do i3S, a equipa irá ainda investigar esta capacidade “especial” do Acomys mais a fundo para tentar perceber se o processo regenerativo após-lesão recapitula o desenvolvimento embrionário, identificar os genes (eventualmente novos) que poderão estar relacionados com essa capacidade regenerativa e situar quando é esses genes surgem ao longo da evolução das espécies. Para isso, serão realizados estudos comparativos com espécies próximas para determinar em que momento evolutivo surgiu esta capacidade regenerativa neste mamífero.
Com um programa científico altamente inovador e multidisciplinar, sublinha Mónica Sousa, “o projeto CORDheal promete ultrapassar os atuais limites do conhecimento e contribuir de forma decisiva para desvendar os mecanismos celulares adaptativos que tornam possível a regeneração do sistema nervoso central em mamíferos”.
Os outros vencedores
Em Portugal, os outros cientistas distinguidos com as ERC Advanced Grants 2025 são: a neurocientista Megan Carey, da Fundação Champalimaud, que pretende explorar como o cerebelo ajuda a consolidar memórias motoras e a adaptar-se a novos desafios; e Miguel Ferreira, da Nova SBE, que se propõe estudar os efeitos da educação financeira na economia.
Foram igualmente premiados os investigadores Ana Domingos e Paulo de Assis, atualmente a trabalhar na Universidade de Oxford (Reino Unido) e no Instituto Orpheus (Bélgica), respetivamente.
A Presidente do ERC, Maria Leptin, felicitou os premiados e elogiou os projetos distinguidos: “Grande parte desta investigação pioneira contribuirá para resolver alguns dos desafios mais prementes que enfrentamos – sociais, económicos, ambientais, entre outros”, aponta a responsável máxima do organismo.
Já a Comissária Europeia para Startups, Investigação e Inovação, Ekaterina Zaharieva, sublinhou que “estas bolsas ERC são o nosso compromisso para tornar a Europa o centro mundial da investigação de excelência. Ao apoiar projetos com potencial para redefinir áreas inteiras, não estamos apenas a investir na ciência, mas no futuro da prosperidade e resiliência do nosso continente”.
Nas próximas edições dos concursos, garantiu, “os cientistas que se mudarem para a Europa receberão ainda mais apoio na criação dos seus laboratórios e equipas de investigação aqui. Esta é parte da nossa iniciativa «Escolha a Europa para a Ciência», concebida para atrair e reter os melhores cientistas do mundo”.
ERC Grants: a U.Porto no topo da investigação europeia
Com a bolsa atribuída a Mónica Sousa, sobe para 23 o número de investigadores da U.Porto distinguidos, desde 2007, com as prestigiadas bolsas de investigação do European Research Council, a principal organização europeia de financiamento da investigação de excelência.
Desde a sua criação, este programa da União Europeia já atribuiu à investigação da Universidade um financiamento superior a 40 milhões de euros, distribuídos por 10 Starting Grants, sete Consolidator Grants, cinco Advanced Grants e uma Sinergy Grant.
Qualquer investigador pode concorrer às bolsas atribuídas anualmente pelo ERC, desde que pretenda desenvolver a sua investigação numa instituição da União Europeia. Sem quotas por países, áreas ou outros, estas bolsas são atribuídas com base, única e exclusivamente, no mérito do projeto.
O financiamento destina-se ao desenvolvimento de projetos por um período de cinco anos e é atribuído em três níveis principais, de acordo com a senioridade do investigador proponente: Starting, para investigadores com 2 a 7 anos após o Doutoramento, num valor de até 1.5 milhões de euros; Consolidator, para investigadores com 7 a 12 anos após o Doutoramento e um financiamento de até 2 milhões de euros; e Advanced, para investigadores independentes, num valor de até 3.5 milhões de euros. A estes valores podem acrescer apoios iniciais, para realojamento ou equipamentos científicos.
Este ano, o financiamento do ERC para as Advanced Grants, no valor total de 721 milhões de euros, será destinado a 281 investigadores na Europa. No caso das Ciências da Vida, foram apresentadas 732 propostas, tendo sido selecionadas para financiamento 83, o que representa uma taxa de sucesso de cerca de 11%.
Sobre Mónica Sousa
Doutorada em Ciências Biomédicas pela Universidade do Porto, Mónica Sousa lidera, desde 2008, o grupo de investigação «Regeneração Nervosa» no i3S, dedicado à descoberta dos mecanismos que regulam o crescimento e regeneração dos axónios. Entre as principais descobertas do seu grupo destaca-se a identificação do rato-espinhoso como o primeiro mamífero conhecido capaz de regenerar espontaneamente a sua espinhal medula, uma descoberta essencial que abriu novas perspetivas na medicina regenerativa.
Durante o seu doutoramento, investigou a biologia de uma proteína propensa à agregação responsável pela degeneração axonal. Posteriormente, realizou investigação pós-doutoral na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde estudou vias de sinalização implicadas na neurodegenerescência induzida por fibrilas amiloides.
Ao longo da sua carreira, Mónica Sousa tem sido distinguida com diversos prémios de prestígio, entre os quais se destacam o Prémio Pfizer em Investigação Básica, Prémio Albino Aroso (2016), prémio Bluepharma Innovation (2018), Prémio Grunenthal Dor 2021 e o Prémio Melo e Castro em 2022, em 2019 e em 2016, entre outros. Obteve também financiamentos de relevo da Fundação internacional «Wings for Life» e da Fundação «la Caixa».
Para além da sua atividade científica, Mónica Sousa tem vasta experiência em liderança, orientação científica e política científica. Em 2024, a sua excelência científica e o impacto do seu trabalho foram reconhecidos com a sua eleição como membro vitalício da European Molecular Biology Organization (EMBO).
Foto: i3S.
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