Press Release: Um consórcio português, que envolve a empresa Stemmatters, em parceria com o Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto) e a Unidade de investigação UCIBIO da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa (UCIBIO NOVA FCT), irão encetar esforços de desenvolvimento de terapias inovadoras com células CAR T para o tratamento do cancro em Portugal.
IPO do Porto integra consórcio português que quer produzir terapias inovadoras com células CAR-T.
O consórcio visa desenvolver e estabelecer, pela primeira vez, capacidade nacional de produzir este tipo de imunoterapia personalizada, potenciando o desenvolvimento clínico de novas soluções terapêuticas no país.
As terapias com células CAR T consistem em reprogramar linfócitos T (células do sistema imunitário do próprio paciente) para que reconheçam e ataquem especificamente as células tumorais. Esta forma avançada de imunoterapia tem demonstrado taxas de sucesso sem precedentes em certos cancros do sangue. No entanto, o acesso a estas terapias em Portugal enfrenta grandes obstáculos logísticos e económicos, já que o país não dispõe, até ao momento, de capacidade própria para as desenvolver ou fabricar.
Foi com esse objetivo que as entidades do consórcio se uniram em torno do projeto “CAR T-Matters – Transformar o panorama da terapia com células CAR T em Portugal”, tendo o mesmo sido selecionado para financiamento competitivo pelo programa COMPETE 2030, gerido pela Agência Nacional de Inovação (ANI).
Atualmente, os doentes portugueses candidatos a terapias CAR T dependem totalmente de centros de produção no estrangeiro. As células T do paciente são colhidas num hospital em Portugal e enviadas para laboratórios especializados fora do país (na Europa ou nos Estados Unidos), onde são geneticamente modificadas e multiplicadas; a terapia resultante é depois enviada de volta para ser administrada ao doente. Este processo complexo e demorado representa uma enorme carga logística e custos elevados. O Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO do Porto) tem desempenhado um papel central e pioneiro na implementação e desenvolvimento da terapia com células CAR T em Portugal. Desde 2019, o IPO Porto tratou mais de 100 doentes com esta abordagem inovadora, sobretudo em casos de cancros hematológicos como linfomas, leucemias e mieloma múltiplo, no contexto de prática clínica e também em ensaios clínicos. “Desenvolver as condições para produzir estas células irá capacitar Portugal para oferecer, a mais doentes, o acesso a esta tecnologia inovadora. Irá atrair mais ensaios clínicos académicos, assim como da indústria, democratizando o acesso e reduzindo o custo desta terapêutica que tanto benefício tem trazido aos doentes oncológicos”, afirma Júlio Oliveira, médico oncologista e presidente do IPO do Porto.
O projeto CAR T-Matters pretende alterar este paradigma, estabelecendo em território nacional uma estrutura integrada de desenvolvimento, produção e translação clínica de terapias com células CAR T. O objetivo central é estabelecer um ecossistema integrado que reduza a dependência de infraestruturas internacionais e acelere a translação clínica deste tipo de terapia. Para alcançar esta visão, o consórcio irá desenvolver atividades complementares nos domínios científico, clínico e industrial, alavancando as competências complementares de cada parceiro.
Na vertente científica, a equipa da UCIBIO (e também alguns membros do Laboratório LAQV da NOVA FCT) vai adotar técnicas avançadas de químio-informática, inteligência artificial e conhecimentos avançados em imunologia e glicobiologia para identificar moléculas capazes de melhorar a eficácia das células CAR T contra tumores. “Vamos explorar milhares de moléculas com recurso a algoritmos de aprendizagem automática, para descobrir as mais promissoras para potenciar a capacidade anti tumoral das células CAR T. Isto permite modelar alvo terapêuticos inovadores que escapam às abordagens tradicionais”, explica Paula Videira, professora e investigadora da NOVA FCT. Esta abordagem integrada permitirá melhorar a estratégia terapêutica, tendo por base a biologia do cancro e uso de ferramentas computacionais de forma a estabelecer tratamentos CAR T mais eficazes e seguros.
Paralelamente, no plano industrial, a Stemmatters ficará responsável por implementar a capacidade de fabrico destas terapias celulares de acordo com os requisitos normativos e regulamentares. A empresa irá desenvolver processos de produção e controlo de qualidade para as células CAR T, aplicando metodologias de Quality-by-Design (QbD) e de gestão de risco. Estas abordagens visam garantir que as células CAR T produzidas localmente cumprem os requisitos regulamentares e de segurança para futuro uso clínico. Em colaboração estreita com o IPO-Porto, serão ainda definidos os protocolos logísticos e clínicos necessários para que, uma vez prontas, estas terapias possam ser distribuídas de forma ágil a centros hospitalares. “Pretendemos estabelecer uma cadeia integrada de desenvolvimento e translação clínica de imunoterapias celulares, capaz de suportar inovação terapêutica em Portugal,” sintetiza Rui Sousa, cofundador e CEO da Stemmatters e coordenador do projeto CAR T-Matters. “É um passo importante para a capacitação nacional no domínio das imunoterapias, na medida que integra recursos e competências complementares para acelerar o desenvolvimento de imunoterapias e estabelecer condições críticas para o seu fabrico em Portugal” conclui.
Sobre o CAR T-Matters
O projeto CAR T-Matters visa desenvolver a primeira plataforma nacional para desenvolvimento e produção de terapias celulares CAR T de forma a colmatar as atuais lacunas na translação clínica deste tipo de imunoterapia em Portugal. O consórcio reúne competências complementares ao nível da investigação, indústria e clínica, sendo liderado pela empresa Stemmatters e integrado pelo IPO Porto e a FCT NOVA. O projeto CAR T-Matters teve início em fevereiro de 2025 e terá uma duração de 3 anos. Esta operação de Investigação e Desenvolvimento (I&D) em co-promoção é cofinanciada pelo Programa COMPETE 2030 (Portugal 2030), através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
Sobre a Stemmatters
A Stemmatters é uma empresa de biotecnologia, sediada em Guimarães, que opera como CDMO (Contract Development and Manufacturing Organization) especializada em produtos de medicina regenerativa. Ao longo dos anos, a Stemmatters consolidou uma vasta experiência em diferentes produtos e processos, incluindo medicamentos de terapia avançada e medicamentos biológicos complexos. A empresa presta uma ampla gama de serviços que abrange desde o desenvolvimento de produto/processo e serviços analíticos até à produção em conformidade com as Boas Práticas de Fabrico (cGMP).
Sobre o IPO Porto
O Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto) é uma instituição de saúde de referência nacional e internacional no domínio do tratamento, investigação e ensino em oncologia. O IPO Porto é o único Centro Compreensivo de Cancro em Portugal, assim como é o único hospital do SNS com uma Unidades de Investigação e Desenvolvimento reconhecida e avaliada pela FCT. A procura constante da inovação através da investigação tem originado projetos diferenciadores e pioneiros nas várias áreas de intervenção do Instituto , nomeadamente através de programas-quadro de apoio à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico cofinanciados a nível europeu.
Sobre a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa | NOVA FCT:
A NOVA FCT é uma das principais Faculdades de Ciências, Engenharia e Tecnologia de Portugal, reconhecida pelo seu carácter inovador, imersa num ecossistema empreendedor que se caracteriza pela forte ligação ao tecido empresarial e pela sua comunidade de start-ups. Fundada em 1977, na zona da Caparica, o campus universitário é o maior do país, com cerca de 8500 estudantes, 420 docentes, 108 investigadores, 243 funcionários e mais de 1000 projetos. O perfil diferenciador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa caracteriza-se também pela resposta à dinâmica e exigência do mercado de trabalho, valorizando a integração das soft skills na sua dimensão pedagógica, através do Perfil Curricular.
A NOVA FCT acolhe 18 centros de investigação reconhecidos pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A qualidade científica reflete-se também na produção científica, com publicações no TOP 10 das principais revistas internacionais da especialidade, sendo o espaço de ensino português com maior concentração de laboratórios CoLABs (9) e Bolsas European Research Council – ERC (21). O resultado deste desempenho é a integração da faculdade nas prestigiadas redes de universidades tecnológicas CESAER, EUTOPIA, University Industry Innovation Network e Young European Research Universities Network e parcerias com universidades europeias e americanas. Mais informações: https://www.fct.unl.pt/pt-pt.
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