Focus é um filme de crime e comédia dramática lançado em 2015, protagonizado por Will Smith e Margot Robbie. Esta longa-metragem marca o regresso de Smith a um registo mais sofisticado dentro do género dos vigaristas, onde o engano, o charme e a manipulação se tornam peças-chave. Com assinatura dos realizadores Glenn Ficarra e John Requa (Crazy, Stupid, Love), o filme mergulha num universo de trapaças elaboradas, onde a confiança é constantemente posta à prova e o amor pode ser apenas mais uma jogada.
Sinopse
Nicky Spurgeon (Will Smith) é um vigarista experiente e carismático, mestre da arte da distracção e dos esquemas meticulosos. Ao conhecer Jess Barrett (Margot Robbie), uma jovem sedutora mas inexperiente no mundo das fraudes, Nicky decide tomá-la sob a sua alçada. O relacionamento entre ambos rapidamente ultrapassa o plano profissional, levando Nicky a afastar-se para manter o controlo emocional. Três anos depois, reencontram-se em Buenos Aires, onde Nicky está envolvido num golpe de alto risco ligado ao milionário Rafael Garriga (Rodrigo Santoro). A tensão entre o passado e o presente, entre o verdadeiro e o falso, torna-se o fio condutor de um enredo repleto de reviravoltas.
Argumento e Estrutura Narrativa
O argumento de Focus equilibra dois eixos principais: a relação romântica entre Nicky e Jess e a sucessão de esquemas engenhosos que sustentam a narrativa.
A estrutura divide-se em dois actos bem definidos:
- A Iniciação (Nova Orleães) – A introdução de Jess no mundo da vigarice, a sua formação sob a tutela de Nicky e uma operação de grande escala durante o Super Bowl. Esta primeira parte estabelece o tom do filme: elegante, ritmado e com toques subtis de humor.
- O Reencontro (Buenos Aires) – O segundo acto assume um registo mais sério e emocional. Aqui, a narrativa torna-se mais ambígua, jogando com as expectativas do espectador e misturando sentimentos com interesses pessoais.
Apesar de alguns momentos mais forçados, o guião mantém o espectador envolvido, graças à sua capacidade de surpreender e de manipular a percepção, tal como fazem os seus protagonistas.
Interpretações
Will Smith entrega uma performance controlada e magnética. O seu Nicky é sofisticado, metódico e envolto numa aura de mistério. Smith não se apoia apenas no seu carisma habitual — oferece uma interpretação mais contida, que reflecte a natureza calculista do personagem.
Margot Robbie, por seu lado, revela uma energia cativante. A sua Jess é simultaneamente ingénua e astuta, conseguindo manter-se imprevisível ao longo do filme. A química entre os dois actores é indiscutível e fundamental para a credibilidade da história.
Rodrigo Santoro assume um papel secundário mas sólido. Interpreta o antagonista com subtileza, conferindo-lhe um equilíbrio entre charme e ameaça, sem cair no exagero.
Realização e Estética Visual
A realização de Ficarra e Requa aposta num estilo visual arrojado, elegante e contemporâneo. A cinematografia destaca-se pelo uso de cores quentes, ambientes luxuosos e uma câmara fluida que acompanha o ritmo das acções. O filme tem um toque quase publicitário, que combina bem com o universo glamoroso e ilusório dos vigaristas.
A banda sonora, com influências de jazz, soul e electrónica suave, reforça a atmosfera sofisticada e contribui para criar momentos de tensão e leveza nos momentos certos.
Temas e Subtexto
Para além da trama de crime e romance, Focus aborda questões mais subtis:
- Percepção versus realidade – Uma reflexão sobre o que vemos, o que nos mostram e o que escolhemos acreditar.
- Confiança como arma e vulnerabilidade – Num mundo de mentiras e disfarces, confiar em alguém pode ser o maior risco.
- Amor ou manipulação? – O limite entre sentimentos verdadeiros e interesses pessoais é constantemente posto em causa.
O título do filme (“Foco”) é também simbólico: onde colocamos a nossa atenção, o que nos escapa, e como o olhar pode ser desviado — uma metáfora visual e emocional que percorre toda a narrativa.
Recepção e Crítica
Focus recebeu críticas mistas por parte da imprensa especializada. Enquanto alguns críticos elogiaram o estilo visual, a química entre os protagonistas e o entretenimento leve mas inteligente, outros apontaram fragilidades no argumento, particularmente no acto final, que por vezes parece depender de coincidências forçadas.
Ainda assim, o filme teve um bom desempenho comercial e mantém-se como uma proposta sólida dentro do género, combinando elementos de romance, comédia e crime com uma estética apelativa.
Conclusão
Focus é uma história elegante e envolvente, onde o jogo psicológico é tão importante como o plano em execução. Will Smith e Margot Robbie guiam o espectador por um mundo onde a verdade é maleável e o engano é uma arte. Apesar de alguns tropeços narrativos, o filme oferece uma experiência divertida e inteligente, ideal para quem aprecia enredos cheios de charme, tensão e reviravoltas.
No fim, tudo depende de onde colocamos o nosso foco — e de quem está, realmente, a jogar connosco.
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